sábado, 3 de dezembro de 2011

AUDIÊNCIA PUBLICA DEBATE SOBRE O PROBLEMA DAS DROGAS DIA 05/12/2011, AS 17:OO h, NO WEB. BELA VISTA HOTEL

  


Drogas

Como funciona o tráfico de drogas

Introdução  
Como funciona o tráfico de drogas


Nas fraldas do bebê, várias pedras de crack. Bonecas de porcelana cheias de papelotes de cocaína. Com o estudante de medicina, cinqüenta comprimidos de êxtase. Imagens de Nossa Senhora Aparecida recheadas de cocaína. Drogas num fundo falso de uma falsa bíblia. Vestido de padre, um jovem arriscou embarcar num avião com quatro quilos de cocaína sob a batina. Num caminhão, brinquedinhos de papai-noel para crianças pobres com cocaína dentro. Noutro, 300 quilos de maconha escondidos sob um carregamento de arroz.
Tem sido assim em todo o Brasil. No atacado ou no varejo, os traficantes tentam levar suas “mercadorias” aos consumidores. E “fregueses” não faltam. Eram mais de 200 milhões de usuários de drogas no mundo em 2006, segundo o Relatório Mundial de Drogas do Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes (UNODC, na sigla em inglês). Isso representa cerca de 5% da população entre 15 e 64 anos. As substâncias mais usadas são maconha, haxixe, cocaína, heroína e drogas sintéticas.
De acordo com o relatório do UNODC, foram produzidas no mundo 45 mil toneladas de maconha em 82 países. As Nações Unidas (ONU) registraram o tráfico dessa droga em pelo menos 146 países, ou seja, em praticamente todos os países do mundo. O que resulta num mercado que movimenta anualmente cerca de 800 bilhões de dólares no planeta.
No Brasil, o consumo de cocaína e maconha aumentou em 2006. Também cresceu o tráfico de cocaína, especialmente na região Sudeste. Entre os países da América do Sul (com 6,7 milhões de usuários de maconha) foi no Brasil, segundo o relatório, que ocorreu o maior aumento do consumo da droga, a maior parte vinda do Paraguai, porque a produção brasileira de maconha não é suficiente para suprir a demanda.
O consumo da cocaína também aumentou na América do Sul em 2006, subindo de dois milhões de consumidores para 2,25 milhões. De acordo com a Organização das Nações Unidas, o uso da droga no Brasil foi o principal fator para a elevação da taxa de usuários no continente. Foram nas regiões Sudeste e Sul do país que o consumo cresceu mais. Ser usado como “rota”, uma espécie de corredor por onde passa a cocaína que vem da Colômbia (60%), Bolívia (30%) e Peru (10%) com destino à Europa, contribui para o aumento do uso da cocaína no Brasil. A droga vem em grande quantidade e parte dela fica em solo brasileiro. Vendida para grandes traficantes, ela é distribuída aos pequenos que a fazem chegar aos consumidores.
O relatório mostra que a heroína tem no mundo 11 milhões de usuários, dos quais, 600 mil são brasileiros. Prova de que as drogas hoje são um negócio globalizado.

As rotas do tráfico no Brasil

Existem diferentes rotas que trazem a cocaína e a maconha para o Brasil. Há as rotas caseiras,  destinadas ao transporte da droga consumida pelos brasileiros, as rotas internacionais, nas quais a droga simplesmente passa pelo país que é usado como corredor das drogas que têm como destino final os Estados Unidos e a Europa, e as rotas mistas, que são aquelas em que as drogas vêm para o Brasil e parte fica no país para consumo e outra parte segue para o exterior.
A maior parte da cocaína vem da Colômbia, e boa parte da maconha vem do Paraguai. Apesar do Brasil produzir maconha, principalmente no “Polígono da Maconha”, área do semi-árido nordestino, a quantidade não é suficiente para a demanda interna e, por isso, os traficantes importam a erva do Paraguai.
A principal dificuldade que o Brasil tem para evitar o contrabando e a entrada de drogas e armas no país é o tamanho de suas fronteiras. São 16 mil quilômetros só por terra. Para combater o tráfico feito por via aérea, em 2004 foi regulamentada a lei 7.565, conhecida como a “Lei do Abate”, que permite que aeronaves consideradas suspeitas (que não tenham plano de vôo aprovado) sejam derrubadas em território nacional. Com medo, os contrabandistas de armas e drogas que usavam o espaço aéreo para transportar suas mercadorias, voltaram a usar as rotas terrestres.
Segundo a Polícia Federal, grande parte das armas e drogas também chega pelo mar.
O tráfico de armas é um negócio que também movimenta milhões de dólares, só perdendo para o de drogas. Calcula-se que das 17 milhões de armas que existem no país, 4 milhões estejam nas mãos do crime organizado. Tanto as drogas como as armas chegam ao Brasil por meio dos formiguinhas, pessoas que as transportam em veículos particulares, ou pelos grandes traficantes que fazem encomendas de quantidades que chegam via terra, mar e, muito pouco atualmente, por ar. Nessa negociata, muitas vezes, os bandidos pagam suas contas com trocas de produtos. É o caso da rota Brasil-Suriname: os brasileiros vão até o país onde compram armas e pagam com drogas. É pelo Suriname que entra boa parte das armas produzidas na Europa, como o fuzil russo AK-47 e metralhadoras antiaéreas trazidas da Ásia. Armas que interessam aos traficantes brasileiros e a facções criminosas, como o PCC e o CV, para continuar com o controle dos pontos de drogas e a continuidade dos crimes. 
Mandar a droga para fora tem um motivo muito especial para os traficantes: o preço. Pra se ter uma ideia, o quilo da cocaína na Colômbia custa US$ 2 mil, chega ao Brasil por US$ 4,5 mil, nos Estados Unidos custa US$ 25 mil e na Europa vale US$ 40 mil. No Oriente Médio e no Japão atinge seu maior valor: US$ 80 mil o quilo. 
O Brasil também recebe drogas de outros países, numa rota inversa. O haxixe (a maior parte produzido no Norte da África), por exemplo, é distribuído para a Europa e também para o Brasil. O ecstasy, fabricado principalmente na Europa, é igualmente trazido para o Brasil. Muitas vezes esse tráfico é feito por "mulas" que levam cocaína para a Europa e trazem o ecstasy, uma das anfetaminas mais usadas no país, em troca.
São muitas as portas de entrada das drogas no Brasil. Em novembro de 2007, a polícia apreendeu na cidade de Umuarama (PR) 500 quilos de maconha,  que vinham do Paraguai. A droga, segundo a polícia, entrava no Brasil por Guaíra e pertencia ao PCC, que tinha montado uma base em Umuarama. De lá mandavam a maconha para São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, ao preço de um mil real o quilo. Só nesse “posto” descoberto pela polícia era comercializada uma tonelada de maconha por semana. 
O Brasil se difere do Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia por não ser produtor e por ser o ponto mais importante de trânsito para as drogas produzidas nos quatro países. Mas há tempos o Brasil não é mais só corredor em direção a Europa e Estados Unidos. O país passou a ser um importante consumidor de drogas, em especial, de maconha e cocaína. Um mercado ativo e em expansão que conquistou especialmente os jovens. 
Um documento divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2006 cita que no Brasil o narcotráfico “emprega” mais de 20 mil “entregadores” de drogas, a grande maioria jovens de 10 a 16 anos que ganham salários de US$ 300 a US$ 500 por mês. Só no Rio de Janeiro, o narcotráfico vende por ano cerca de seis toneladas de drogas, faturando cerca de R$ 900 milhões, de acordo com a Polícia Civil carioca. Desse montante, quase R$ 600 milhões são faturados pelo Comando Vermelho e o Terceiro Comando (outra facção do Rio). Em São Paulo, calcula a polícia, existem cinco mil postos de distribuição da droga. A cidade é hoje o ponto principal do “corredor Brasil”, de onde é mandada a maior parte da cocaína e maconha que abastece a Europa e Estados Unidos.
O relatório da ONU acrescenta que os traficantes possuem armas melhores e mais poderosas de que as da polícia brasileira e que os traficantes, mesmo presos, continuam a comandar o tráfico de dentro da cadeia. Exemplo disso é o caso do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira Mar, um dos principais fornecedores de cocaína para o Comando Vermelho e para o Primeiro Comando da Capital. Em 22 de Novembro de 2007, a mulher de Fernandinho foi presa pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, acusada de ajudar o marido a comandar uma rede internacional de tráfico de drogas e armas. Beira-Mar, mesmo preso no Presídio de Segurança Máxima em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, comandava suas operações criminosas e tinha “representantes” em vários estados brasileiros. Sob sua chefia, sua organização comprava maconha do Paraguai e cocaína da Bolívia e revendia para o mercado interno e também para o Exterior. O ex-chefe da Polícia do Rio de Janeiro, Hélio Luz, disse que “o tráfico é uma empresa, é uma empresa ilegal”.

O Polígono da maconha

Na divisa de Pernambuco (sertão pernambucano) e Bahia, às margens do Rio São Francisco, 14 municípios no Nordeste do Brasil têm como principal atividade o cultivo da maconha. É a maior área de plantio da erva na América do Sul. Jovens e trabalhadores rurais são cooptados pelo tráfico e trabalham de dez a 12 horas diárias de cinco a seis meses por ano. O Ministério Público do Trabalho de Pernambuco calcula que sejam 40 mil trabalhadores nessa região só no plantio de maconha, sendo dez mil crianças e adolescentes. O cultivo da maconha na área começou em 1977. A estimativa era de que a produção em 2007 atingiu 10 milhões de pés da erva, o que corresponde a quatro mil toneladas de droga. Do “produtor” o quilo saía por R$ 200 e depois de passar pelos “intermediários” chegava aos grandes traficantes por mil reais o quilo.

Tipos de drogas

Antes de falar mais sobre tráfico conheça rapidamente algumas das drogas consumidas no mundo.

Maconha

Também apelidada de baseado, erva, tora, bagulho, fininho, beise, a maconha é derivada das folhas de uma planta chamada cannabis sativa, que contém a substância ativa THC-Delta-9, o Tetrahidrocanabinol. É originária da Ásia Central e conhecida há mais de 200 anos. O uso constante pode levar a problemas pulmonares (seu teor de alcatrão é maior do que o do cigarro comum) e até ao câncer, porque nela existe uma substância chamada “benzopireno” um conhecido agente cancerígeno. Há estudos que apontam que a maconha diminui, no homem, a quantidade de testosterona, reduzindo o número de espermatozóides. O homem não fica impotente, mas pode ficar estéril.
Na América do Sul, as primeiras plantações aconteceram no Chile, no século 16. Calcula-se que atualmente 160 milhões de pessoas no mundo façam uso dela. Para conhecer mais, leia o artigo sobre a maconha.

Haxixe

Ele é extraído da própria maconha (uma mistura de cannabis sativa mais resina), mas sua substância ativa é potencializada, ou seja, é muito mais “forte”. Para se ter uma idéia, a maconha tem 2% de THC e o haxixe pode ter 14%. Os maiores produtores de haxixe são o Paquistão, o Nepal, o Líbano, a Turquia, além de alguns países da África. É moldado em pequenas barras ou bolos de cor marrom escura. 

Skank

Ele é considerado a “super maconha”. Cultivado em laboratório, seu efeito é mais concentrado. O índice de THC no skank é de 17.5%. A droga vem da Europa e é mais cara, por isso é conhecida como a “super maconha dos ricos”. Perda da noção de tempo e espaço, alucinações, pupilas dilatadas, excitação, aumento do apetite por doces, perda da coordenação motora e lapsos de memória são algumas das conseqüências do uso da droga.

Cocaína

As notícias do uso das folhas da planta, que depois derivou a droga, são de 4.500 anos atrás, quando eram usadas pelos índios que as mascavam, hábito chamado de “coquear”. Seu nome é Erythroxylon coca, popularmente chamada de cocaína. Sintetizada em 1859 seu uso afeta no cérebro especialmente as áreas motoras, produzindo agitação intensa. Calafrios, pupilas dilatadas, insônia, sangramento do nariz, emagrecimento são algumas das conseqüências do seu uso. Se for usada durante muito tempo também causa danos cerebrais e aceleração do envelhecimento.

Crack

Ele surgiu em 1985, nas Bahamas. É derivado da planta da coca que é misturada com bicarbonato de sódio ou amônia e água, resultando em “pedras” que são fumadas em cachimbos. É muito usado por jovens das classes mais pobres porque é mais barato do que a cocaína. Seus efeitos duram menos tempo e ele vicia mais rápido do que outras drogas. Seus efeitos são tão devastadores que os traficantes de São Paulo (os das ruas e os que estão nas cadeias) proibiram a venda e o uso do crack porque ele tira tanto seu usuário da “razão” que ele não paga as dívidas. Além disso, é conhecido como a droga que mata (por seus efeitos danosos ao organismo) e os traficantes preferem seus clientes “vivos”. Agindo sobre o sistema nervoso central o crack gera aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, tremores, dilatação da pupila, suores intensos. Sensação de euforia e poder são seus efeitos psicológicos. Para saber mais sobre a droga leia como funciona o crack.

Merla

É derivada da cocaína e é uma junção de folhas de coca com produtos químicos como o querosene, cal virgem, e ácido sulfúrico. Tudo misturado se transforma numa pasta onde se concentra de 50% a 70% da cocaína. Excitante do sistema nervoso, causa euforia, aumento de energia e diminuição do sono e do apetite, alucinações, delírios e confusões mentais. Muitos usuários durante o uso da merla tem convulsões e perda de consciência.

LSD

Também conhecido como LSD21 é uma substância líquida a base de dietilamida do ácido lisérgico e é fabricada em laboratório. Produz profundas alterações mentais, provocando delírios e alucinações. No Brasil é comercializada em cartelas picotadas similares a um mata-borrão. Cada pequeno quadrado picotado recebe uma gota de LSD que o usuário coloca na pele ou embaixo da língua. É tão potente que doses de 20 a 50 microgramas já fazem efeito. Também conhecido como doce, ácido, papel, micro ponto e gota, seus efeitos duram de oito a doze horas. O uso faz com que a pessoa tenha ilusões e alucinações visuais e auditivas e os efeitos físicos do LSD são aumento da pressão arterial e freqüência cardíaca, náuseas, vômitos, suores intensos. 

Heroína

Derivada do ópio é uma das drogas mais perigosas que se conhece, causando dependência física e psíquica. Danos cerebrais e envelhecimento acelerado são algumas das suas conseqüências. Quando usada seu efeito dura de quatro a seis horas.

Ópio

Seu sabor é amargo e um pouco acre. É feito com o suco resinoso (látex leitoso) retirado da planta papoula. Os principais alcalóides do ópio são morfina, paverina, codeína, tebaína e narceína. O preço é muito alto e são poucos os viciados nesse tipo de droga no Brasil. A droga age quimicamente no corpo humano e causa dependência física e psíquica. Os viciados ficam magros, com um tom amarelado na pele e cai sua resistência a infecções. O efeito dura até doze horas e a abstinência provoca suores, arrepios, tremores, insônia, vômitos e câimbras abdominais. 

Êxtase

Ecstasy ou êxtase (no Brasil) é uma substância psicoativa chamada de metilenodioximetanfetamina (MMDA) e foi sintetizada por uma indústria farmacêutica em 1914. Há cerca de dez anos passou a ser usada por jovens de todo o mundo, que tomam os comprimidos com bebidas alcoólicas. O ecstasy age estimulando a produção de serotonina no cérebro, responsável pela sensação de prazer, por isso ficou conhecida como a “droga do amor” entre os adolescentes. O uso do êxtase eleva a pressão arterial e produz intensa elevação da temperatura (uma febre de até 42 graus) o que leva a uma intensa desidratação, por isso os jovens, bebem muita água após ingeri-lo. É muito utilizado em festas “raves”, quando jovens se reúnem para passar de três a quatro dias dançando e usando drogas. Taquicardia, secura na boca, diminuição do apetite, câimbras, dores musculares, dificuldade para andar são alguns dos efeitos. O uso contínuo pode causar lesões cerebrais irreversíveis, levando à depressão, paranóia, alucinações, perda do autocontrole e dificuldade de memória.

Boa Noite Cinderela

Usado no Brasil, Argentina, Estados Unidos e outros lugares do mundo o “Boa Noite Cinderela” é um conjunto de drogas: calmantes, lorazepam, flutnitrazepan e bromazepan. Essa mistura é conhecida como “rape drugs” (droga do estupro). É muito usada em golpes dados por rapazes e garotas, que em boates, bares e danceterias misturam a droga na bebida da vítima. Ao ingerir ela se sente sonolenta e é levada pelos golpistas, que estupram e roubam a vítima. O efeito do sono profundo pode durar até 24 horas.

Anfetaminas

São diversos os tipos de anfetaminas no mundo, feitas de diferentes substâncias, e em geral são consumidas junto com bebidas alcoólicas. O primeiro tipo de anfetamina foi sintetizada pela primeira vez no final do século passado na Europa para uso medicinal, mas já nas décadas de 30 ou 40 passou a ser usada com fins não medicinais e a moda se espalhou pelo mundo. É muito usada por atletas profissionais e amadores porque aumenta a capacidade física do usuário, fazendo com que a pessoa, sob o efeito da droga, consiga praticar exercícios físicos que normalmente não conseguiria.
História das drogas no Brasil
Até o começo do século 20, o Brasil não tinha qualquer controle estatal sobre as drogas que eram toleradas e usadas em prostíbulos freqüentados por jovens das classes médias e altas, filhos da oligarquia da República Velha. No início da década de 20, depois de ter se comprometido na reunião de Haia (1911) a fortalecer o controle sobre o uso de ópio e cocaína, o Brasil começou efetivamente um controle. Naquele momento, o vício até então limitado aos “rapazes finos” dentro dos prostíbulos passou a se espalhar nas ruas entre as classes sociais “perigosas”, ou seja, entre os pardos, negros, imigrantes e pobres, o que começou a incomodar o governo.
Em 1921, surge a primeira lei restritiva na utilização do ópio, morfina, heroína, cocaína no Brasil, passível de punição para todo tipo de utilização que não seguisse recomendações médicas. A maconha foi proibida a partir de 1930 e em 1933 ocorreram às primeiras prisões no país (no Rio de Janeiro) por uso da droga.
Essa proibição se estende até hoje com certa variação. Mesmo proibidas, as drogas continuaram a ser consumidas e aumentou a violência em torno do tráfico, com o surgimento de grandes grupos de traficantes, como o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro.
Nos anos 60 e 70, no presídio de segurança máxima de Ilha Grande, presos comuns e guerrilheiros urbanos dividiram os mesmos espaços e trocaram “experiências”. Em 1975, anistiados, os guerrilheiros deixaram o presídio, mas os presos comuns continuaram lá e passaram a usar, no dia-a-dia, as táticas de organização aprendidas com os companheiros da guerrilha. Com elas, sobreviveram e dominaram outros grupos do complexo penitenciário. Organizaram um grupo de autodefesa, chamado Falange Vermelha, que em pouco tempo mudaria o nome para Comando Vermelho e se transformaria num dos maiores grupos do crime organizado no Brasil e no mundo. 
No início dos anos 80, o Comando Vermelho já dominava o prisional do Rio de Janeiro. Além disso, quando seus integrantes cumprem suas penas e são liberados, o comando conquista também as ruas e suas idéias se espalham para além das grades. No início desses processos, foram formados grupos para fazer assaltos a bancos. Com o tempo perceberam que há outro negócio mais lucrativo e menos arriscado do que os constantes assaltos a agências bancárias: o tráfico de drogas.
No final dos anos 70 e início dos 80, o aumento do consumo de cocaína na Europa e nos Estados Unidos fez também elevar a produção e o tráfico nos países andinos e apareceram as primeiras “empresas narcotraficantes", como a liderada por Pablo Escobar, que passaram a produzir cocaína para exportação. É no início dos anos 80 que o Brasil aparece como rota para o escoamento de cocaína para os EUA e a Europa.
Nesse cenário, o Comando Vermelho aparece como uma organização inserida na nova dinâmica internacional do narcotráfico e passa a dominar o mercado de drogas no varejo no Rio de Janeiro. Aparecem os “donos-do-morro”, que se aproveitam da ausência do governo, impõem suas próprias regras e passam a “mandar” nas favelas, onde instalam sua “autoridade”. Em contrapartida, passam a ajudar a população com atitudes assistencialistas: distribuição de comida e gás de cozinha e pagamentos de enterros e batizados.
O Estado responde com a presença de soldados nos morros, ataque a pontos de vendas e prisão de traficantes. Os conflitos são diários com mortes de ambos os lados e são criadas polícias de elite, com o propósito de combater o tráfico. Mas o comércio de drogas já havia tomado proporções enormes. Como demorou a ver e combater o problema, o governo não consegue vencer os traficantes. O Comando Vermelho (CV) continua a intimidar e a traficar. Do Rio passa a enviar a droga a outros Estados, principalmente para São Paulo. Em 2000, os “laços” entre Rio e São Paulo se solidificam quando o CV faz parceria com o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa paulista, e juntos passam a traficar drogas. 
Tida como a maior e mais antiga guerrilha das Américas, as Farc – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – chegaram a ter 35 mil homens. Fundada em 27 de Maio de 1964, durante uma guerra interna na Colômbia, a organização, que vive nas selvas e montanhas, passou a sobreviver, especialmente, da produção e venda de cocaína e papoula. As Farc produzem 39% da droga colombiana. Outra parte de sua “receita” o grupo obtém com as centenas de seqüestros que realiza no país. Calcula-se em 250 milhões de dólares o montante que a organização chegou a conseguir com resgates. 
Provavelmente desde 1980, as Farc montaram na Amazônia bases para o tráfico de drogas e de armas. Em 2004, o juiz federal Odilon de Oliveira, de Ponta Porã, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, revelou que as Farc se instalaram no Paraguai, na fronteira com o Brasil e passaram a treinar traficantes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Deram cursos de guerrilha e também de seqüestros aos bandidos das duas maiores facções criminosas do Brasil: O PCC e o Comando Vermelho. “Eles treinam brasileiros lá para agir aqui” disse o juiz. Segundo ele, as quadrilhas de narcotraficantes brasileiros são os principais “clientes” na compra da cocaína produzida pelas Farc. Antes de chegar ao Brasil, a cocaína é levada para o Paraguai. O pagamento é feito em dólares ou armas. Ponta Porã é a segunda cidade do país em lavagem de dinheiro, perdendo só para Foz do Iguaçu (Paraná). 
Os “empresários” da cocaína no Brasil “legalizam” o dinheiro conseguido com o tráfico de drogas, com a compra de hotéis, bingos, redes de farmácia, postos de gasolina, bares, lojas de automóveis, fazendas e gado. Outra forma utilizada por eles e descoberta pelo governo brasileiro foi a compra de bilhetes premiados da loteria. Um esquema montado com donos de lotéricas e funcionários de órgãos públicos funcionava da seguinte forma: os bilhetes ou jogos premiados eram “comprados” dos ganhadores, assim o traficante ou político justificava o dinheiro que tinha dizendo que ganhou na loteria.
Combate às drogas no Brasil
A lei brasileira em vigor para combate ao tráfico é a de número 11.343, de 23 de agosto de 2006, a Lei Antidrogas, que estabelece normas para repressão, produção e tráfico de drogas e que diferencia o traficante do consumidor.

O Artigo 28, que trata do consumidor, estabelece:

“Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para uso pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com a determinação legal será submetido as seguintes penas:
Advertência sobre os efeitos da droga
Prestação de Serviços a Comunidade
“Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.”
O Artigo prevê também as mesmas medidas para os que cultivam drogas para consumo próprio, como uma pequena plantação caseira de maconha.
O Artigo não prevê prisão para quem for somente usuário e tiver em seu poder pequena quantidade de drogas. Caberá ao juiz determinar se a quantidade encontrada com o sujeito faz dele, perante a lei, um consumidor ou um traficante.
No Artigo 33, começam as determinações de penas. Por exemplo: de três meses a um ano para quem induzir, instigar ou auxiliar alguém no uso de drogas.
Se forem duas ou mais pessoas e houver objetivo de lucro (cobrança pelas drogas) a pena sobe:
De três a dez anos de cadeia.
E para os grandes traficantes, que forem pegos comercializando grandes quantidades e pena é de oito a 20 anos de prisão.

O combate

Dificuldades com nossas enormes fronteiras, poucos policiais federais para fiscalizar, poder financeiro dos traficantes, que em muitos casos corrompem a polícia, e o crescimento das facções criminosas, que se aliaram e dominam o tráfico, são os principais problemas do Brasil no combate ao narcotráfico. 
Em 1990, o Brasil deu mais um passo no combate ao tráfico de drogas, com a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), que com satélites e radares teve como objetivo não só proteger as matas, visualizando os pontos de destruição pelos madeireiros, mas também controlar outras atividades clandestinas como o tráfico de drogas. 
Em 1998, foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), ligada ao governo federal e que dá apoio os Estados.
Em 2001, a Polícia Federal, encarregada de desarticular o narcotráfico na fronteira da Amazônia brasileira, fez uma grande operação na região e encontrou bases de produção de cocaína sob o domínio das Farc, que produziam por mês, em território brasileiro, cerca de 45 toneladas de cocaína. A droga era levada em aviões que partiam de pistas clandestinas para a Colômbia, Estados Unidos, Europa e outros estados brasileiros.
Nas grandes metrópoles, as policiais civis montaram até departamentos  especializados, visando, principalmente, a prender os traficantes, tirá-los de circulação e, conseqüentemente, diminuir a quantidade de drogas em circulação. Em São Paulo, por exemplo, existe o Denarc - Departamento de Investigações sobre Narcóticos, que tem dezenas de delegados e investigadores só para trabalhar contra o narcotráfico. Com equipamentos modernos e a utilização de escutas telefônicas (autorizadas pela Justiça), eles buscam prender “peixes grandes” do tráfico de drogas. 
Os policiais grampeiam telefones celulares de bandidos dentro e fora das cadeias e gravam o que eles conversam. Assim descobrem seus planos, as rotas das drogas e das entregas, surpreendendo os bandidos e os prendendo em flagrante. O problema é que muitos desses traficantes, mesmo atrás das grades, continuam com seus negócios. 
Além de reprimir, as leis brasileiras também se preocuparam com a recuperação dos viciados, mas infelizmente, na prática, não acontece o que determina o papel. Os usuários dependentes pobres têm muitas dificuldades para encontrar lugares públicos para internação e tratamento. Os das classes médias e altas recorrem a clínicas particulares especializadas, que custam muito caro.

Da produção ao consumidor

As drogas produzidas aqui no Brasil ou importadas de fora são compradas por grandes traficantes e revendidas aos chamados micros traficantes (aqueles que compram quantidades pequenas), que as revendem para os consumidores. Muitos destes grandes traficantes estão dentro das cadeias e as drogas que compram são revendidas dentro das prisões e também nas ruas. O homem que faz a ponte, ou seja, é o intermediário entre os produtores e os grandes traficantes são chamados de matuto. Nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, o tráfico montou uma espécie de governo paralelo.
Nas favelas e nos morros, eles são os “donos-do-morro” ou “donos-das-bocas” e ditam as leis. Os donos do morro é que decidem onde serão as bocas-de-fumo e quem serão os representantes, que são os micros traficantes. Estes finalmente vão revender a maconha ou a cocaína para o consumidor final, que podem ser jovens pobres da própria favela e morro ou, na maioria das vezes, os filhos da classe média e alta, principais financiadores do esquema do tráfico.
No Rio de Janeiro são quase mil favelas onde morar mais de 1,5 milhões de pessoas, parte delas recrutadas pelo tráfico. Os comandos criminosos cariocas empregam pelo menos 10 mil jovens de 10 a 16 anos que são os “soldados” ou vapores, fogueteiros, aviões. Sem oportunidade de emprego, sem perspectiva de uma vida melhor, os jovens vêem no tráfico uma possibilidade de “vencer” na vida. Espelham-se na fama dos chefões do tráfico, que circulam com carrões, sempre rodeados de mulheres bonitas e com seguranças armados. A eles, além de um “bom salário”, o tráfico oferece lazer e entretenimento, como os bailes funks onde a cocaína é livremente vendida a preço baixo, num território dominado pelos bandidos, onde muito raramente entra a polícia e o poder do estado é ausente. O “movimento”, como se referem os moradores ao tráfico de drogas, também aparece fazendo quadras de futebol e patrocinando festas juninas e natalinas, com distribuição de presentes para as crianças. Durante o ano, há ajuda às famílias até com a compra de remédios. Cerca de 50 grandes grupos controlam todo o tráfico no Rio.
Entre os trabalhadores do tráfico tem o “químico”, que é contratado pelo grande traficante, o “dono-do-morro”. O químico é o responsável por “batizar” a droga, ou seja, pelos ingredientes que vão ser misturados nela. A cocaína, por exemplo, é comprada “pura” pelos grandes traficantes e para que ela “renda” mais, aumente de volume, o químico faz a mistura que pode ser, por exemplo, com bicarbonato. Um quilo da droga pura vira dois quilos depois da mistura e o lucro é maior.
Há jovens que são contratados como “fogueteiros” que ficam em pontos estratégicos, munidos de fogos de artifício para serem soltados em duas ocasiões: quando as drogas chegam e ficam à disposição e quando a polícia está chegando.
No topo da hierarquia do tráfico está o “dono-da-boca”, traficante que compra as grandes quantidades. “Abaixo dele os “gerentes”, que repassam a droga para os “aviões” que levam, transportam a droga até as bocas-de-fumo”. Os gerentes também têm a função de arrecadar semanalmente o dinheiro do tráfico nas bocas de fumo e prestar contas ao chefão, o dono-do-morro.
O dono-da-boca contrata os "soldados” ou “vapores” que são os que revendem a droga aos consumidores, aos clientes, que podem estar no morro ou nas avenidas, próximas às favelas e aos morros.
Há também os “esticas” que são os encarregados de vender as drogas em faculdades, boates, bares, prédios e condomínios. O trabalho é ininterrupto.São 2 turnos de 12 horas e os “trabalhadores” se revezam. 
Em algumas favelas existe ainda o “drive-thru”. Os traficantes ficam em um ponto fixo e os compradores, de carro, passam, pagam e recebem a droga. Em São Paulo e no Rio também tem o serviço “delivery”. O cliente liga para um determinado número e em pouco tempo um motoqueiro chega com a “encomenda” que pode ser entregue em casa, num shopping, num bar. Os traficantes chegaram a sofisticação de “personalizar” as drogas, fazendo embalagens diferentes, em cores diferenciadas para cada boca-de-fumo. De forma que, se o cliente tiver alguma reclamação, o vendedor do ponto será identificado.

As drogas e a internet

Mundo moderno, traficantes modernos. E a internet entrou em ação. Com um “click” é possível negociar vários tipos de drogas: maconha, cocaína, esctasy. Jovens mantém conversas sobre novos entorpecentes, remédios que têm poderes alucinógenos. Marcam raves e abertamente publicam que nos três dias de festa vai rolar de tudo.
A internet é vista como uma nova possibilidade de negócios, principalmente pela possibilidade de vender drogas por e-mail ou em conversas on-line. Os traficantes chegam a fazer “leilões virtuais”, comercializando a droga para quem pagar mais.

Mulas

É freqüente, nos aeroportos brasileiros, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, a polícia prender pessoas que tentam embarcar para a Europa  levando cocaína. Muitas são pessoas recrutadas pelos traficantes, que ingerem cápsulas da droga (embrulhadas em plástico para não estourar) e viajam com ela no estômago. Em um dos casos, em 2006, um jovem preso estava com quase um quilo da droga no estômago. As "mulas", como são chamadas, recebem pelo trabalho cerca de US$ 5 mil por viagem mais as passagens aéreas e a estadia. Quando chegam ao destino, tomam laxante para “despejar” a droga. Alguns repetem o ritual de engolir drogas e voltam para o Brasil com o estômago recheado de esctasy. Esses rapazes e moças ficam dois ou três dias sem comer nada para que caiba mais droga dentro deles e para que após a ingestão elas não se misturem com alimentos no estômago. Nem água pode beber. Há casos em que as cápsulas de cocaína estouram e as mulas morrem de overdose em poucos minutos.

Mortes e crimes

Em seu relatório, de 2006, a ONU destaca que grande parte dos 30 mil homicídios registrados anualmente no país estão ligados ao tráfico e consumo de drogas. 
Ressalta que os grupos envolvidos no tráfico de drogas têm nível de violência maior do que os dos ligados a outras atividades criminosas, como o jogo do bicho. É como um ditado popular no Brasil: “O tráfico não perdoa, mata”. Mata porque vendeu e não recebeu, mata porque alguém “quebrou” a lei do silêncio, mata porque algum dono-de-boca foi incorreto na hora do acerto de contas. 
O Ministério da Justiça do Brasil fez um levantamento que mostra que em 60% das chacinas ocorridas no país o motivo foi o tráfico de drogas. Em São Paulo e Rio de Janeiro chega a 80%. Sejam os matadores traficantes que venderam e não receberam, sejam traficantes rivais eliminando-se entre si, sejam policiais ou justiceiros os causadores das mortes, as drogas sempre são o pano de fundo. 
Nosso país está também incluído no Relatório da Jife (Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes) como um dos países com os maiores índices de violência decorrentes do tráfico e do consumo de drogas. 
As drogas aumentam também outros tipos de crimes como assaltos, arrombamentos, prostituição, porque muitas vezes o viciado sem recursos para comprar as drogas acaba cometendo esses crimes para obter o dinheiro.

Alternativas mundiais

A legislação para tráfico e uso de drogas no mundo varia muito. Enquanto, alguns países como Cingapura, Indonésia e Arábia Saudita condenam à pena de morte os traficantes, outros, principalmente na Europa, têm leis amenas, principalmente para os usuários.
Portugal, a partir de 2002, descriminalizou as drogas ilícitas, ou seja, o usuário não é mais tratado como um criminoso, mas as penas endureceram para os traficantes, com multas e longos períodos de prisão.
Na Suécia, o governo, depois de levar para a cadeia vários consumidores e vendedores, decidiu investir na prevenção, tentando evitar que os jovens se iniciem nas drogas. O país gasta 30% a mais em prevenção do que outros países da Europa e o resultado é que há 30% menos usuários de drogas do que a média européia.
Nos Estados Unidos é permitido o uso medicinal da maconha em oito Estados, mas as leis para o tráfico são duras. No Canadá, o consumo medicinal também é permitido desde 2001.
No Japão, onde os jovens das classes médias e altas são os maiores consumidores, desde 2006, a pena de prisão para usuários foi substituída por tratamento e serviços comunitários. As leis para os traficantes endureceram e se tornaram ainda mais rigorosas.
Na AlemanhaBélgicaEspanha e Finlândia, o uso também foi descriminalizado e a lei não impõe condenação para quem é só usuário.
Na Holanda, o consumo de maconha é liberado (com quantidades limites de venda: até cinco gramas de maconha para cada cliente) e a droga é vendida em cerca de 800 bares e cafés, desde 1976, para maiores de 18 anos. Esses locais não podem se instalar próximos a escolas e não é permitido fumar maconha nas ruas, só dentro dos cafés que oferecem uma infinidade de variedades da erva, inclusive com cardápio. O governo holandês também permite que cada pessoa tenha em casa até cinco pés de maconha plantados. Outras drogas como a cocaína, heroína, ácidos e anfetaminas continuam ilegais. O país oferece ainda tratamento de primeira aos seus jovens viciados que encontram no sistema de saúde pública do Estado todos os modernos métodos de tratamento sem pagar nada.
Todo mês de novembro acontece na Holanda o “World Cannabis Cup”, um torneio mundial de maconha. Gente do mundo inteiro se reúne lá para experimentar e saborear as novas variedades da planta e votar pelas melhores.
Apesar de parecer um incentivo às drogas, uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisas de Drogas da Universidade de Amsterdã, após a descriminalização, mostrou que o número de usuários não aumentou com a liberação. Em 2007, na Holanda, eram 300 mil os usuários, ou seja, cerca de 3% da população, índice que é igual aos de outros países da Europa e menor do que o dos Estados Unidos, onde cerca de 5% da população consome ilegalmente a maconha.

As drogas em Itaberaba

Jovens a partir de 10 anos exigem da mãe e das avós dinheiro para usar drogas todos os dias se ouve estas historias. Dependente de crack, a compulsão pela droga faz com que os garotos têm momentos de agressividade extrema. Eles já quebram objetos e móveis para pressionar a família a lhe dar dinheiro. Roubou itens domésticos para trocar por pedras. Chegam a violências extrema a bater na mãe e nos avós que, para evitar novas agressões, aceitam a exigência dos garotos. A família desconfia que ele troca pelo menos uma parte dos cigarros por pedras de crack.
A história destes garotos é apenas a ponta de uma realidade que avança silenciosamente nas pequenas cidades baiana igual à Itaberaba. A paz e o sossego se degradam em lugares antes pacatos, onde as portas das casas ficavam abertas e a única lógica pela transmissão de valores dentro das famílias era os filhos respeitarem os pais. Crack, maconha, cocaína e até heroína já entraram na vida de muitos meninos, como vício ou como experimento.  
A reportagem da imprensa percorre as cidades e constata a cada matéria que a mudança é para pior que as drogas, além de terem ultrapassado os limites das grandes cidades, fazem dos adolescentes a principal vítima. A escolha destas cidades foi feita aleatoriamente, mas relatos e dados sobre a incidência de drogas deram peso à escolha. A situação vivida em todo o país, principalmente quanto à entrada de crianças e adolescentes no mundo das drogas. 
Registros de 2008 de órgão de Secretarias de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes apontam que 20,4% dos dependentes químicos atendidas em instituições estaduais e conveniadas afirmavam ter tido o primeiro contato com drogas antes dos 11 anos.

Itaberaba pedacinho do Brasil

Outra pesquisa, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), afirma haver no Brasil 1 milhão de crianças e jovens entre 6 e 17 anos com dependência química, 90% dos usuários conduzidos são menores, de acordo com o com algumas pesquisas 90% dos usuários abordados e conduzidos pela PM à unidade policial são menores. E, dos outros atos ilícitos registrados, cerca de 98% estão relacionados às drogas. “O vício leva aos crimes. Eles furtam ou roubam para trocar por drogas, ameaçam e agridem para conseguir drogas, enfim, vira uma bola de neve crescente”, afirmou.
Segundo a assistente social das prefeituras pesquisadas não há instituição de recuperação nem estrutura de programas de reabilitação para esses menores. “Os pais reclamam, não sabem o que fazer. A gente encaminha os pedidos de internações para outros municípios, mas é difícil conseguir vagas.”

Dependentes aterrorizam moradores

A produção do abacaxi gera riqueza não pode se obscurecer que também é uma ponte para o trafico desde o avanço na produção as drogas chegou ao campo e a cidade não é mais a mesma em diversos aspectos, sendo um deles, a violência, motivada principalmente pela entrada das drogas.    
Falta de investimento em educação de qualidade, áreas e exercício de esporte são estas falta de opções de lazer e de outras atividades tornam crianças e adolescentes alvos fáceis de traficantes. Não estou eximindo a responsabilidade da família, que deveria ser a primeira a oferecer estrutura e a não permitir que os jovens sejam desencaminhados.
Não é difícil ouvir  que conselheiras ou comissário da Infância e da Juventude em abordagem e adolescentes da cidade respondem por atos inflacionais relacionados ao envolvimento com drogas. Que envolve uma adolescente a partir de 11 anos.
Há ainda na cidade o caso de adolescentes de que freqüentemente agride fisicamente a mãe e a irmã mais velha. “Às vezes, é porque, como está sob efeito de alguma coisa ruim, ele não reconhecem. Outras vezes é porque está desesperado para conseguir dinheiro para usar droga, então ataca os familiares
Sociedade é deformada
Nossa maior preocupação é com o futuro. A entrada cada vez maior e mais cedo no submundo das drogas deforma a sociedade. “Amanhã não haverá mão de obra qualificada para o mercado de trabalho ou constituição de novas famílias.
Como resultado do vício em entorpecentes, os adolescentes têm um aspecto franzinho. Perdem a motivação pelos estudos e a auto-estimar, o que leva à evasão escolar e à depressão. “A droga tem entrado como uma epidemia na sociedade. Apresento o problema, mas não tenho uma solução”, disse o sargento.

A função da família e da educação no combate às drogas

As drogas são problemas que integram praticamente todas as sociedades contemporâneas, o resultado negativo decorrente a isso é de ordem social e econômica. Social, pois desestrutura a família e econômico por gerar diversos custos para o governo que na maioria das vezes mantém o tratamento. 
Na maioria das cidades as drogas também financiam a violência e o crime. Grande parte dos usuários é jovem, muitos começam a usar geralmente na escola e em idade cada vez mais prematura. 
Nesse sentido, a base para o não ingresso dos jovens nesse mundo quase sempre sem volta está na família e na escola. A primeira deve dialogar conhecer as amizades, esclarecer sobre o perigo das drogas, e ensinar valores humanos e valorização da saúde e da vida. A segunda pode promover palestras, depoimentos, visitas de policiais, médicos entre outros profissionais que estão diretamente envolvidos no processo de prevenção das drogas e tratamentos.
No entanto, quem mais tem contato com o aluno são os professores, desse modo cabe a ele sempre que possível abrir momentos para discussões acerca do assunto, o tema não é de incumbência somente de determinadas disciplinas, mais sim de todas. O professor desenvolve um grande poder de influência, além de ser um formador de opinião, e é justamente nesse contexto que insere o seu papel. 
Diante desse fator o educador pode implantar atividades vinculadas ao tema, muitos professores e também grande parte das direções pensam ou indagam sobre o conteúdo programático e o tempo gasto para concluí-los e que as pausas para as discussões sobre o tema podem prejudicar, esquecem que a palavra “educação” é bem mais abrangente, trata-se da formação do indivíduo como um todo de maneira que possa integrar a sociedade pronta para a vida. Se a função da escola é educar, por que não ensinar as nossas crianças, adolescentes e jovens sobre o risco que correm no uso de drogas? 
Em suma, o problema é bastante complexo e requer a participação efetiva dos pais e dos professores com respaldo dos donos de escola, no caso particular, e do poder público nas instituições públicas, uma coisa é certa, a base para o problema está na educação.

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