domingo, 30 de outubro de 2011

Corrupção e Fisiologismo de Samuel Celestino

Coluna A Tarde: Corrupção e Fisiologismo      

A corrupção e o fisiologismo são irmãos siameses na vida pública brasileira, especialmente no Legislativo e no Executivo. No Judiciário a questão é outra. Envolve desde a soberba (síndrome da autoridade) aos desvios praticados pelos maus magistrados, que a ministra baiana Eliana Calmon os chamou de “bandidos de toga”, aqueles que vendem sentença. Curioso é que, logo depois, ministros e magistrados espernearam, mas, diante da reação positiva da opinião pública em relação ao que disse a ministra do STJ e corregedora do CNJ, fez-se silêncio. Eliana ficou sozinha no palco. Shakespeariana, sincopou o discurso. Recusou o “ser ou não ser” e ficou com “eis a questão”.        
A identidade entre a corrupção e o fisiologismo foi exposta ao País de forma mais clara nos anos 80 (governo Sarney) pelo ex-deputado paulista  Roberto Cardoso Alves, que lançou o “é dando que se recebe”, uma alusão, segundo ele, a São Francisco de Assis. Pôs o santo no meio para amenizar o cambalacho. O que acontece no governo Dilma é consequência do Lula-petismo e da herança maldita deixada para a sucessora. Todos os ministros demitidos (ou “renunciados”) foram por ele indicados. Ladrão, gatuno, tungueiro, rapineiro e lalau existem em todos os países, em grau maior ou menor a depender do País, dos seus princípios civilizatórios e das suas práticas. Aqui, o grau é maior. Estamos ranquedos no 76º  lugar em termos de corrupção. O que há por essas bandas são estruturas de uma República torta, construídas para facilitar o roubo, a partir de uma democracia que teima privilegiar partidos iguais na corrida aos cofres públicos.        
Para Lula e outros mais, a governabilidade cambaleia se o bolo não for repartido.  Com os gatunos, vê-se pelos exemplos. Interessante que nos seus primeiros 15 anos de vida, o PT recusava-se se misturar, a fazer alianças com as demais legendas por se julgar asséptico. Aqui na Bahia, há dois exemplos de intolerância com políticos corretos: um deles aconteceu com Waldir Pires, que, ao deixar o PMDB, pelo qual se elegeu governador para depois renunciar. Ele pagou um preço elevadíssimo para ser aceito pelos petistas mascarados de bons e elevados (por eles próprios) à perfeição.      
O outro foi um democrata combatente, o ex-secretário de Saúde de Waldir, o médico psiquiatra Luis Humberto Pinheiro. Bertinho, como era conhecido, deixou o PMDB para ingressar no PT e foi humilhado. Submeteram-no a um tribunal de inquisição. Ele sentado e seus algozes a sabatiná-lo, questionando-o de todas as formas. Depois de humilhá-lo, foi, então, aceito no partido. Tamanha foi a intensidade maléfica do processo que Luiz Humberto, depois do acontecido, abandonou a política e mergulhou por conta própria no ostracismo, se afastando da política. PT, quem te viu... Ou, como diz uma letra da música popular brasileira “quem foste tu, quem és tu... Não és nada...” Retomando à linha inicial deste texto, desde o primeiro ministro a cair, Antônio Palocci, Dilma repete que não é pautada pela imprensa e, no entanto, todos os ministros, sem exceção, caíram por seguidas denúncias da mídia porque o governo, na verdade, não fez absolutamente nada. Deixou a barca correr, até que, diante da insustentabilidade, caíram todos. O fisiologismo está presente de forma escandalosa. Cai um corrupto ou suposto corrupto e o lugar é entregue a quem estava comendo a fatia do bolo dividido: o partido que indicou o lalau. Porque se “é dando que se recebe”, ao entregar o posto à mesma legenda, a presidente apascenta Lula que nunca tocou em ninguém, pelo contrário, deixou a bola rolar (se quiserem, bola no sentido de propina) para garantir apoio congressual e, desse modo, a tal da governabilidade.      
Um deputado só não vale nada, mas assim como o boi, a manada vale muito. Então, o Executivo tem que ter a maioria da manada para aprovar os seus projetos nas duas Casas congressuais. Cai o corrupto, mas fica o partido, que apresenta outro nome. Como time de futebol que muda o jogador contundido. Assim posto, a República permanece torta, viciada, sem reformas (impedidas pelo Congresso) para que todos possam comer.            
Como cantou em “Vampiros” o poeta contestador português Zeca Afonso, cujos versos (de outra música) desencadearam a Revolução dos Cravos que derrubou Oliveira Salazar: “De manhã cedo chegam os vampiros/ comem nas ruas, comem nas calçadas/ Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”.

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